quinta-feira, 20 de setembro de 2012

JUNÇÕES COMUNICANTES

As junções comunicantes tratam-se de um tipo de especialização do domínio basolateral da membrana plasmática que proporciona a comunicação entre células vizinhas através de canais hidrofílicos. Estão presentes nos mais variados tipos celulares, excetuando-se as fibras musculares estriadas esqueléticas e as células sanguíneas. Essa junção intercelular, a qual pode ser também denominada de junção tipo gap, constitui-se por um agrupamento de número variável de canais protéicos hidrofílicos, os conexons.
Os conexons de uma célula se alinham com os conexons da célula adjacente, formando um canal aquoso contínuo que conecta os citoplasmas das células em contato. O alinhamento dos conexons determina uma fenda uniforme de 2-4 nm entre as células em interação, daí o nome junção tipo gap (gap, em português, significa fenda). Estudos experimentais evidenciaram que as junções comunicantes mantêm-se por processo ativo (com gasto de energia sob a forma de ATP), uma vez que o bloqueio da fosforilação oxidativa por inibidores metabólicos acarretou inibição da formação de novas junções tipo gap e a desintegração das que já existiam.
Às junções comunicantes são atribuídas as funções de união elétrica e/ou metabólica. Estudos experimentas, por intermédio da injeção de corantes hidrofílicos, mostraram que o poro dos conexons apresenta um diâmetro de cerca de 5 nm. Assim, os canais hidrofílicos proporcionam o fluxo, exclusivamente, de íons e moléculas menores de 1.000 daltons (íons inorgânicos, açúcares, aminoácidos, nucleotídeos, vitaminas, certos hormônios e segundos mensageiros como o AMP cíclico e o trifosfato de inositol), em decorrência da restrição determinada pelo diâmetro do poro dos conexons. Macromoléculas como proteínas, ácidos nucléicos e polissacarídeos não conseguem, pois, atravessar os conexons. Essa comunicação direta apresenta repercussões funcionais importantes, que diferem segundo os tecidos onde as junções comunicantes são encontradas.
Por proporcionarem essa comunicação intercelular direta, sem necessidade de atravessar a importante barreira seletiva que é a membrana plasmática, as diversas células de um determinado tecido trabalham de modo coordenado, como uma unidade cooperativa. Como exemplo, as células musculares estriadas miocárdicas estão unidas entre si por junções comunicantes e trabalham como se fossem um sincício, proporcionando a contração adequada para bombear o sangue para as circulações sistêmica e pulmonar.
Os conexons são constituídos de proteínas transmembrana denominadas conexinas. Na verdade, as conexinas são um grupo de várias proteínas que apresentam semelhanças na sequência de aminoácidos, estrutura conformacional e função. As conexinas apresentam quatro porções transmembrana e organizam-se em hexâmeros em torno de um poro hidrofílico de 1,5 nm para formar os conexons. Na espécie humana, existem 14 tipos distintos de conexinas, cada uma codificada por um gene diferente. Assim, quando conexinas do mesmo tipo se organizam em hexâmeros, formam conexons homoméricos; por outro lado, conexons heteroméricos são aqueles constituídos por mais de um tipo de conexina.
A distribuição dos tipos de conexinas difere entre os tecidos, sugerindo uma expressão diferencial dessas proteínas, tecido-dependente. Entretanto, as células podem expressar mais de um tipo de conexina, havendo certa sobreposição. Assim, as células podem sintetizar conexons homoméricos e/ou heteroméricos ou ainda células vizinhas que expressam conexinas distintas podem formar um canal hidrofílico contínuo entre si a partir de conexons completamente diferentes. Como conseqüência, as junções comunicantes exibem distintas propriedades, segundo os tecidos onde são encontradas, reflexo da diversidade de conexinas.
Enfim, as junções comunicantes, tipo de especialização do domínio basolateral da membrana plasmática, são canais protéicos hidrofílicos que medeiam a comunicação elétrica e/ou metabólica entre células vizinhas diretamente, sem a necessidade de atravessar a importante barreira que é o plasmalema, apresentando relevantes implicações funcionais nos tecidos onde são expressas.

VECHI, H. T.

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