A higienização oral é
necessária e previne doenças como a “Doença Periodontal”, que ataca as gengivas,
resultando como consequência a perda de dentes e nesse artigo, especialistas no
assunto, fazem um relato das principais enfermidades que essa patologia
causa. As
doenças periodontais necrosantes são caracterizadas por rápida destruição
tecidual, sintomatologia dolorosa e possível perda de função. Lesões gengivais
caracterizadas por áreas de necrose podem evoluir para perda de inserção que,
por sua vez, podem estender-se além
da junção mucogengival, com sua gravidade seguindo paralelamente ao avançar da
imunossupressão. As formas de doenças periodontais necrosantes envolvem
a:
Gengivite
Ulcerativa Necrosante (GUN): caracterizada por ulceração marginal da
gengiva, com formação de áreas de necrose, porém sem envolver o periodonto de
inserção. Clinicamente mostra-se como lesões limitadas envolvendo o tecido
gengival, sem perda de inserção periodontal, apresentando áreas marginais
ulceradas, com necrose tanto da região interproximal (papilas em “punchout”)
quanto das faces livres, além da presença de crateras teciduais localizadas
(Melnick et al., 1988; Porter & Scully, 1994; Murayama et al., 2000).
Normalmente as lesões ulceradas estão cobertas por uma pseudomembrana, esta, por
sua vez,constituída de fibrina, tecido necrótico, células inflamatórias,
bactérias mortas e vivas que, se removidas, resultarão em sangramento e
exposição de tecido conjuntivo (Fenoll & Pérez, 2004; Holmstrup &
Westergaard, 2007). Presença de sangramento espontâneo ou provocado por leves
estímulos, salivação excessiva, gosto metálico (Murayama et al., 2000), odor
fétido (“Foector ex ore”) (Fenoll & Pérez, 2004), mal estar e dor intensa
são os sinais e sintomas que geralmente levam o paciente à procura do tratamento
(Rowland, 1999).
Periodontite
Ulcerativa Necrosante (PUN): exibe áreas de necrose tecidual com perda de
inserção periodontal, formação de bolsas e sequestros ósseos. A PUN é definida
como uma doença periodontal severa, de rápida progressão, que cursa com áreas de
eritema na gengiva livre e gengiva inserida. Extensas áreas de necrose de tecido
mole podem ser evidenciadas, além de severa perda do periodonto de inserção,
muitas vezes sem formação de bolsa periodontal (AAP, 1992; Klokkevold, 2007).
Caracteriza-se por um começo
relativamente rápido (entre 2 e 3 meses) e radiograficamente exibe áreas de
extensa perda óssea (Porter & Scully, 1994; Barr, 1995). Radiograficamente,
lesões iniciais de PUN demonstram pequena perda de osso e pouca mobilidade
associada às unidades dentais acometidas. Rapidamente tais lesões podem evoluir
para uma exuberante perda óssea, associada à grande mobilidade (Winker,
1992; Porter & Scully,
1994; Barr & Robbins, 1996).
Estomatite
Ulcerativa Necrosante (EUN): por sua vez, consiste em uma manifestação ainda
mais agressiva, caracterizada por lesões que se estendem além da junção
mucogengival, com grande destruição tecidual e envolvimento sistêmico, sendo
geralmente associada a uma maior morbidade (Fenoll & Pérez, 2004). Quando o
tecido necrótico característico dos processos periodontais necrosantes
ultrapassa a junção mucogengival, a doença recebe a denominação de estomatite
ulcerativa necrosante (EUN), também denominada como “cancro oris” ou “noma” em
seu estágio mais avançado (Novak, 1999). Sua ocorrência está
relacionada ao avanço e complicações da PUN, gerando grandes áreas de necrose de
tecido mole que podem se estender mais de 10 mm além da linha da gengiva
marginal (Porter & Scully, 1994; Chapple, 2000). A exposição óssea é
evidente, com sequestro de fragmentos algumas vezes estendendo-se às áreas
vestibulares e/ou palatinas (Winkler, 1992; Ryder, 2000; Klokkevold, 2007). Tal
patologia pode acometer crianças (Chidizonga, 1996; Ryder, 2000) com pouca
saúde, pouca higiene oral, má nutrição crônica e que vivem em ambientes sem
saneamento básico (Novak, 1999; Chidzonga & Mahomva, 2008). Por sua relação
direta com o comprometimento severo do sistema imune de seus portadores, os pacientes
não sobrevivem muito tempo, devido às condições sistêmicas e imunológicas em que
se encontram (Ryder, 2000; Chidzonga & Mahomva, 2008).
O diagnóstico das
doenças periodontais necrosantes baseia-se essencialmente nos achados clínicos,
de modo que os exames radiográficos podem ser utilizados para confirmação do
comprometimento ósseo. O diagnóstico diferencial para esse grupo de lesões
inclui gengivoestomatite herpética primária, gengivite descamativa, gengivite
estreptocócica e gonocócica, intoxicação por metais, eritema multiforme
exsudativo, pênfigo benigno, estomatite aftosa, traumatismo gengival e abscessos
periodontais (Cordeiro, 2004; Holmstrup &
Westergaard, 2007).
Segundo o Workshop
Internacional para Classificação de Doenças Periodontais (1999), essas entidades
foram classificadas como partes de uma mesma enfermidade, apesar de exibirem
algumas características clínicas diferenciáveis e de previsibilidade distintas
(Armitage, 1999). São consideradas as formas mais graves de doença provocadas
pela placa bacteriana (Fenoll & Pérez, 2004). Além disso, fatores locais
como restaurações com excesso marginal, impactação alimentar, má posição
dentária e presença de cálculo podem contribuir para o seu agravamento
(Holmstrup & Westergaard, 2007).
Dentre os componentes
microbiológicos associados à patogênese das doenças periodontais necrosantes
encontram-se: fusobacterias e espiroquetas, principalmente as espécies Treponema
spp, Selenomonas spp, Prevotella intermedia, Porphyromona gingivalis,
Fusobacterium nucleatum, Aggregatibacter actinomycetemcomitans e Campylobacter
rectus, (Fenoll & Pérez, 2004; Cordeiro, 2004), bem como cepas de Treponema
pallidum (Murayama et al., 2000) e Bacteroides intermedius (Genco et al., 1984).
Também podem estar diretamente relacionados com seu início e severidade os
fatores etiológicos secundários relacionados ao hospedeiro – tabagismo, etilismo
e comprometimento sistêmico (estresse, desnutrição, deficiência
hormonal, infecção por HIV, leucemia, neutropenia e tratamento imunossupressor)
–, sendo, na maioria dos casos, determinantes do diagnóstico (Rowland, 1999;
Murayama et al., 2000; Fenoll & Pérez, 2004; Klollevold, 2007; Guvenc et
al., 2009).
Por serem
consideradas doenças de pouca prevalência, mas de elevada gravidade, as Doenças
Periodontais Necrosantes (DPN) requerem um tratamento imediato e de boa
efetividade. O controle microbiológico das lesões está diretamente relacionado
ao sucesso do tratamento. Em suas formas menos graves, o controle da placa
bacteriana com uso de agentes antimicrobianos de ação local, como a clorexidina
e o iodopovidona, parece promover uma melhora significativa da sintomatologia,
levando até mesmo à remissão das lesões. Em casos mais graves, com efeitos na
saúde geral do indivíduo, o uso de agentes antimicrobianos de ação sistêmica
parece ser decisivo para o controle da doença.
Fonte: Revista
Periodontia
DOENÇAS PERIODONTAIS NECROSANTES E USO
DE ANTIMICROBIANOS COMO TERAPIA ADJUNTA – REVISÃO DA
LITERATURA
Michelle Michel,
Especialista em Periodontia pela
Associação Brasileira de Periodontia – Seção Bahia
Kaliane Rocha Soledade,
Mestranda em Processos Interativos dos
Órgãos e Sistemas – UFBA, Especialista em Periodontia pela Associação Brasileira
de Periodontia – Seção Bahia.
Eduardo Azoubel,
Mestre em Odontologia – PUC-RS,
Professor Adjunto da Escola Bahiana de Medicina e Saúde
Pública.
Maria Cecília Fonseca
Azoubel, Doutora em
Ciências Médicas – UFC (CE), Professora Adjunta da Escola Bahiana de Medicina e
Saúde Pública.
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