Qualquer tipo de tratamento protético de um ou
mais elementos exige a confecção das restaurações
provisórias, que podem facilitar a confecção da prótese
definitiva e, consequentemente, levá-la ao sucesso.
O termo "provisória", para muitos, pode significar
apenas que a prótese provisória tem a função, somente,
de substituir a quantidade desgastada do dente preparado
até a cimentação da prótese definitiva. Aqueles que
assim pensam, provavelmente, não devem estar satisfeitos
com a qualidade dos seus trabalhos.
Por que o sucesso da prótese definitiva está relacionado
diretamente à qualidade das restaurações provisórias?
Desde sua confecção até a cimentação da prótese
definitiva, o tempo despendido clinicamente com as
restaurações provisórias é muito grande: confecção,
cimentação, remoção, limpeza, fraturas de margens e
pônticos com necessidade de reembasamento e reparação.
Provavelmente, esse tempo deve estar por volta
de 50%. Se isto for verdade, então algumas reflexões
devem ser feitas:
a) Se "perdemos" todo esse tempo com as restaurações provisórias e, considerando que o tempo clínico é
extremamente valioso, por que não usá-lo em favorecimento
da prótese definitiva?
b) Se a restauração provisória faz parte do tratamento protético, por que não confeccioná-la de tal
modo a dirimir todas as dúvidas que, normalmente,
surgem durante o tratamento como,determinação da
forma, contorno, oclusão, dimensão vertical e estética
da prótese definitiva?
da prótese definitiva?
c) Em função das características dos dentes retentores, podem surgir dúvidas no planejamento inicial
mente idealizado, em função da qualidade e quantidade do periodonto de inserção, do número e do
posicionamento dos dentes pilares. Assim, por que
não usar as restaurações provisórias como elementos
de diagnóstico?
d) Outro aspecto muito importante está na
conscientização do paciente da importância da higiene oral no sucesso da prótese. Por que não usar esta
fase como treinamento para motivar o paciente em
relação à sua higiene oral?
É obvio que as restaurações provisórias apresentam
ou trazem algumas desvantagens, principalmente se
permanecerem por um longo período na boca. Podem
ocorrer fraturas que se tornam frequentes quanto maior
for o tempo de permanência na boca; resposta periodontal
desfavorável em função da característica superficial
do material que favorece a instalação da placa e,
como consequência, inflamação gengival e/ou instalação de cárie. Outra desvantagem está relacionada à participação
efetiva que essas restaurações provisórias têm
no orçamento da prótese. Porém, em hipótese alguma,
alguém deve pensar em abolir esse procedimento com
o intuito de diminuir o custo final da prótese.
Embora seja possível dar ao paciente um planejamento
protético inicial e uma ideia de custo final, somente
após o tratamento periodontal é que se pode
definir com exatidão quais dentes serão pilares, que
prótese será executada e qual o custo final. Até então
deve-se estabelecer um orçamento inicial que inclui, se
necessário, montagem dos modelos em ASA e enceramento
diagnóstico, remoção das próteses antigas e núcleos intrarradiculares, tratamento ou retratamento endodôntico,
confecção de novos núcleos e coroas provisórias,
combinado ou não à prótese parcial removível
provisória. Novo orçamento das próteses definitivas
será realizado após o tratamento cirúrgico periodontal.
Finalmente, a instalação da prótese provisória na
boca do paciente cria um compromisso entre este e o
profissional, que pode favorecer a realização do tratamento
e tornar essa parceria mais positiva. É esta a
fase que começa a dar forma ao tratamento definitivo,
a atender às expectativas do paciente e a ajudar o
profissional a conseguir um ótimo produto final. Isto
é o que se denomina de tratamento personalizado.
Por outro lado, se este compromisso é quebrado
devido à alterações inadequadas na função, na fonética
ou na estética, pode ocorrer uma desarmonia no
relacionamento entre profissional e paciente, que
pode também trazer consequências negativas ao trabalho
definitivo.
Coroas provisórias que se deslocam com facilidade
e frequentemente, nas situações mais inconvenientes;
desajustes ou fraturas marginais que provocam sensibilidade
devido as variações térmicas, inflamação gengival
e sangramento localizado ("nem escovo ou passo
fio porque sangra"); contatos proximais insuficientes
ou inadequados, que possibilitam impacção alimentar;
formas anatómicas que deixam a desejar, mais
comumente o sobrecontorno; dentes estéticos, principalmente
os anteriores, que não preenchem essa finalidade;
cor que não é compatível com os dentes vizinhos
ou antagónicos, com certeza não são elementos
que possam contribuir para o sucesso do tratamento
ou relacionamento cirurgião-dentista/paciente.
Portanto, a conscientização do profissional da importância
do papel da restauração provisória é um
indicador seguro do sucesso da prótese definitiva.
CARACTERÍSTICAS DAS
RESTAURAÇÕES PROVISÓRIAS
Entre as características que as coroas provisórias
devem apresentar com o objetivo de atingir o sucesso,
pode-se comentar:
PROTEÇÃO PULPAR
Após o preparo ter sido realizado, é imperativo que
a quantidade de desgaste esteja em acordo com as
necessidades estéticas e mecânicas da prótese planejada,
para que a prótese provisória possa ter a capacidade,
juntamente com o agente cimentante, de auxiliar
na recuperação do órgão pulpar.
Para isso, e previamente à confecção da prótese
provisória, a superfície do dente preparado deve ser
limpa com algum tipo de detergente específico para
este fim e, em seguida, envolvida com algodão embebido
em solução de água de cal (Hidróxido de CálcioPA)
que, por apresentar ação bactericida e bacteriostá-
tica, tem a capacidade de agir como vedador dos tú-
bulos dentinários pela iniciação do processo de mineralização
dos mesmos. Em seguida, protege-se a superfície
preparada com duas camadas de verniz à base
de copal, que vão atuar como isolante, impedindo
assim o contato direto da superfície dentinária com o
monômero da resina, que é altamente irritante ao órgão
pulpar. Essas camadas de verniz serão naturalmente
removidas com a confecção das restaurações
provisórias não impedindo, deste modo, a ação do
cimento provisório, junto ao órgão pulpar.
Outro aspecto também irritante à polpa é o calor
gerado durante a reação de polimerização da resina.
Nunca se deve esquecer de manter toda a área envolvida
sob irrigação abundante, para eliminar o efeito
nocivo de tal reação.
A adaptação da prótese provisória é outro fator
importante na recuperação e proteção do órgão pulpar.
A falta de adaptação da coroa provisória leva à
infiltração marginal, e como os cimentos provisórios
apresentam alto grau de solubilidade, maior será a
infiltração. Consequentemente, o dente poderá apresentar
hipersensibilidade, cárie e inflamação pulpar,
comprometendo assim a capacidade regenerativa da
polpa e causando desconforto ao paciente.
A hipersensibilidade dentinária pode ocorrer mesmo
tomando os cuidados acima mencionados. O tratamento
endodôntico, nesses casos, só estará indicado após todas
as possibilidades existentes, para eliminar ou diminuir
este tipo de processo, terem sido esgotadas, como a averiguação
da adaptação marginal, análise da oclusão, de
hábitos parafuncionais e alimentares (dieta ácida, frutas,
refrigerantes), do tipo de cimento empregado e até tentativas
de tratamento de dessensibilização, com produtos
específicos como, por exemplo, oxalato de potássio.
PROTEÇÃO PERIODONTAL
Em relação ao tecido periodontal as próteses provisórias
têm a função primária de preservar a saúde
periodontal, para aqueles casos onde o tecido gengival
está saudável, auxiliar no tratamento e na recuperação
do tecido gengival alterado e, finalmente, na manutenção
da saúde do periodonto tratado.
Em todas essas situações, as restaurações provisórias
devem apresentar características para manter a homeostasia
da área.
ADAPTAÇÃO CERVICAL
A adaptação correta da coroa provisória mantém a
arquitetura normal do tecido gengival, evitando-se sua
proliferação sobre o dente preparado e, consequentemente,
instalação do processo inflamatório.
CONTORNO
O contorno da prótese é influenciado por alguns
fatores: estética, fonética, posição do dente no arco,
forma da raiz, forma do rebordo alveolar e qualidade
do tecido gengival.
Dois aspectos são diretamente dependentes do
contorno correto da prótese provisória: perfil de
emergência e forma e extensão da ameia interproximal.
Não se pode chegar a uma estética desejável, sem
uma avaliação correta desses aspectos que devem ser
determinados durante a fase das restaurações provisórias, acrescentando-se ou removendo-se resina e avaliando-se
o espaço correto para higienização da área. A
qualidade do tecido gengival também depende do
contorno correto da prótese. Não existe estética sem
saúde gengival!
Excesso de contorno nessa região pode promover ulceração
no epitélio sulcular, recessão gengival, inflamação
marginal e, consequentemente, dificuldade no controle
dos procedimentos subsequentes. O objetivo do perfil de
emergência é propiciar um posicionamento harmónico
do tecido gengival sobre as paredes da restauração.
O contorno gengival deve ser determinado tanto
em nível sub quanto supragengival. No nível subgengival,
o contorno da restauração deve apresentar-se
com uma forma plana (perfil de emergência plano)
para harmonizar-se com a superfície também plana da
raiz. Para isso, o nível gengival da coroa deve ser delineado com grafite em toda sua extensão, e toda superfície
que se estende dessa marca até o término cervical,
deve ser aplainada.
O contorno supragengival depende da posição do
dente, extensão da coroa no sentido gengivo-incisal/
oclusal, forma do osso e do tecido gengival, fonética e
estética. Esses fatores devem ser determinados ainda
na fase de prótese provisória como descrito anteriormente,
buscando preencher as necessidades estéticas
individuais do paciente. Esta é uma excelente maneira
de atender às suas expectativas estéticas.
O perfil de emergência pode se estender além do
contorno da gengiva marginal livre, dependendo do
tamanho da coroa no sentido gengivo-oclusal/incisal.
Coroas longas, decorrentes de recessão gengival acentuada
e/ou realização de tratamento periodontal, devem
apresentar um contorno com forma plana mais
estendido para coronal, para propiciar uma transição
gradual entre sua porção radicular e coronal (contorno
de deflexão dupla). O efeito estético nesses casos é
muito interessante, pois cria-se uma ilusão de ótica
onde o dente com coroa clínica longa vai "parecer"
diminuído.
Existe uma relação direta entre contorno e integridade
do tecido gengival. Com o sobrecontorno há
maior facilidade de acúmulo de placa pela dificuldade
de higienização e, como consequência, inflamação,
sangramento, dor e desconforto. Já, o subcontorno
pode causar alterações gengivais devido ao trauma
mecânico causado pela escova dental ou alimentos fibrosos,
provocando ulceração, recessão, perda de tonicidade
do tecido gengival pela falta de apoio correto
sobre as paredes da coroa. De maneira geral, porém, o
sobrecontorno é mais danoso para os tecidos periodontais
do que o subcontorno.
E óbvio que a reação do tecido gengival frente a
essas duas situações pode ter respostas diferentes, dependendo
da característica do mesmo como, por
exemplo, ser mais ou menos fibroso.
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