quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

COMO SE FAMILIARIZAR COM A
FARMACOLOGIA
Embora a Farmacologia possa ser considerada uma ciência básica, seu propósito final como ciência da saúde é aplicar os princípios básicos à prática clínica.
A farmacologia é importante para o cirurgião-dentista não somente pelos fármacos prescritos ou administrados em seus consultórios, mas também pelo fato de o paciente poder estar em tratamento médico com outros fármacos. Todos
os fármacos podem afetar o organismo como um todo. Além disso, quando há uso de mais de um fármaco ao mesmo tempo, existe a possibilidade da ocorrência de interações medicamentosas que
podem acarretar consequências adversas.
Apontaremos as aplicações odontológicas específi cas para cada classe de fármacos. Nessa informação, estão incluídos os benefícios e os riscos associados a cada categoria.
No estudo da farmacologia, é importante entender os fármacos por meio de suas classes, com base na semelhança de seus mecanismos de ação, e não como medicações isoladas. Com o conhecimento das propriedades de cada classe de fármacos e seus exemplos dentro de cada classe, pode-se direcionar o processo de aprendizagem.
As informações sobre os fármacos podem, então,
ser organizadas nas seguintes subcategorias. (Estas serão úteis no
estudo da maioria dos fármacos.)
1. Nome da classe do fármaco e exemplos
2. Mecanismo de ação
3. Farmacocinética
4. Indicações
5. Efeitos adversos
6. Contraindicações
7. Outras informações, incluindo interações medicamentosas
8. Implicações na Odontologia
Alguns recursos podem ser úteis para o aprendizado dos no -
mes dos fármacos. Os nomes comuns (genéricos)dos fármacos dentro de uma dada classe geralmente apresentam similaridades.
A familiarização com uma lista de sufixos dos nomes genéricos pode ser de valia na identificação individual do fármaco.
Tal lista é apresentada a seguir.
SUFIXOS COMO LEMBRETES PARA CLASSES DE
FÁRMACOS
SUFIXO CLASSE FARMACOLÓGICA EXEMPLO
“azol” Fármaco antifúngico tipo azol ou Fármaco antibiótico/antiparasitário
Fluconazol
Metronidazol
“caína” Anestésico local Lidocaína
“coxibe” Inibidor de ciclo-oxigenase-2 (COX-2)
Celecoxibe
“dipina” Diidropiridina, bloqueador de canais de Ca2+
Nifedipina
“ilol” ou
“alol”
Bloqueador do receptor
β-adrenérgico que também
bloqueia o receptor
α1-adrenérgico
Carvedilol,
labetalol
“mabe” Anticorpo monoclonal Infl iximabe
“olol” Bloqueador do receptor
β-adrenérgico
Propranolol
“ônio” ou
“úrio”
Composto do amônio
quaternário, que costuma ser
empregado como relaxante
musculoesquelético periférico
competitivo
Pancurônio,
atracúrio
“osina” Bloqueador do receptor
α1-adrenérgico
Prazosina
“pam” ou
“lam”
Benzodiazepínico que atua
como ansiolítico ou sedativo/
hipnótico
Diazepam,
triazolam
“pril” ou
“prilate”
Inibidor da enzima conversora
de angiotensina (ECA)
Captopril,
fosinoprilate
“sartana” Bloqueador do receptor de
angiotensina II
Losartana
“statina” Fármaco antilipídico inibidor da
HMG CoA redutase
Lovastatina
“triptana” Fármaco antienxaquecoso
agonista de receptores
5-HT1B/1D da serotonina
Sumatriptana
“vir” Fármaco antiviral Aciclovir
A aplicação das informações a casos clínicos pode aumentar a retenção dos conhecimentos e a apreciação da farmacologia. Por exemplo, suponha que a um paciente odontológico tenha sido prescrita darifenacina por seu médico, para tratamento de premência urinária. Deve-se saber quais fármacos como a darifenacina são capazes de provocar xerostomia (secura de boca), e deve
saber-se a razão. Portanto, é razoável supor que a xerostomia seja uma queixa provável que um paciente possa apresentar após fazer
uso daquele fármaco. Além disso, também seria conveniente considerar os modos pelos quais o dentista pode auxiliar no alívio dos
sintomas da xerostomia sem comprometer o tratamento da premência urinária. Tal processo de raciocínio requer conhecimento
de como esses fármacos agem, incluindo os receptores envolvidos, e quais respostas estão vinculadas a esses receptores.
Com o constante desenvolvimento de novos fármacos, de novas classes de fármacos e de novas informações sobre fármacos antigos, o cenário da farmacologia está sempre em expansão. Além
disso, o crescimento de nosso conhecimento em áreas como a farmacogenética e a farmacogenômica promete trazer para a
prática clínica a personalização da terapêutica medicamentosa.
Em suma, a farmacologia é uma disciplina estimulante e dinâmica.

A farmacologia pode ser defi nida como a ciência dos fármacos, sua preparação, seus usos e seus efeitos. O termo deriva de pharmakon, palavra grega usada para fármacos ou medicamentos, e
logia, sufi xo latino tradicionalmente utilizado para designar um corpo de conhecimentos e seu estudo. Como uma disciplina organizada, a farmacologia é de origem recente, mas o estudo de substâncias medicinais é tão antigo quanto a própria civilização.

A farmacologia é uma das poucas ciências médicas que ultrapassa a linha divisória entre o básico e a clínica. A competência da farmacologia é tão extensa que diversas subdivisões vieram a ser reconhecidas. A farmacodinâmica é o estudo da atividade biológica dos fármacos em sistemas vivos. Aqui se inclui o estudo dos meca-
nismos de ação dos fármacos e dos exatos processos por eles afetados. A influência da estrutura química na ação do fármaco (a relação estrutura-atividade) é também objeto de estudo deste ramo da farmacologia. A farmacocinética lida com a magnitude e
a evolução temporal do efeito dos fármacos, e tenta explicar estes aspectos do efeito farmacológico levando em conta a dosagem e
a absorção, a distribuição e o destino das substâncias químicas nos sistemas vivos. A farmacoterapêutica é a adequada seleção do
agente cujo efeito biológico em organismos vivos seja o mais apropriado para o tratamento de um estado patológico em particular. Para isso, é necessário levar em consideração, entre muitos
outros fatores, a dose, a duração da terapia e os efeitos adversos.
do tratamento com o fármaco. A prática da farmácia envolve a preparação e a distribuição dos medicamentos. Na realidade, embora atualmente os farmacêuticos raramente sejam convocados para preparar fármacos, esses profi ssionais podem atuar como uma útil fonte de informações, tanto para o clínico como para o
paciente. A toxicologia é a divisão da farmacologia que trata dos venenos, das suas ações, da sua detecção, e do tratamento das intercorrências por eles produzidas. A importância da toxicologia
na vida moderna é continuamente enfatizada a cada nova descoberta de substâncias químicas nocivas no meio ambiente. Assim como diversas disciplinas da ciência e da medicina passaram por
necessária evolução, áreas promissoras surgiram da união de campos nos quais os interesses se sobrepunham. Por exemplo, o estudo das interrelações entre fármacos e hereditariedade, envelhecimento e o sistema imunológico levou ao respectivo desenvolvimento da farmacogenética, da farmacologia geriátrica, e da imunofarmacologia. Uma última subdivisão da farmacologia, a farmacognosia, é hoje algo como uma ciência vestigial. Essencial na época em que a maioria dos fármacos derivou de plantas, ela
literalmente signifi ca “conhecimento de fármacos” e lida com as características das plantas e como identifi car aquelas com ativi-
dade farmacológica. Atualmente, a maioria dos fármacos é sintetizada quimicamente, mas a fi toquímica, especialmente a síntese de estruturas químicas complexas pelas plantas, continua sendo uma área de interesse. Por outro lado, a medicina fitoterápica passou a ganhar importância como disciplina a partir de 1994. O uso de produtos nessa área tem estimulado o interesse nos com-
postos ativos de ervas medicinais, sua efi cácia clínica e suas apli-cações potenciais.
Após a descrição de como o estudo de fármacos é classifi cado, convém discutir o que signifi ca a palavra fármaco*∗
. Para o farmacologista, um fármaco é qualquer agente químico que tem efeito
sobre processos relacionados com a vida. Obviamente esta definição é ampla e não se ajusta adequadamente para muitos grupos, que defi nem o termo de forma mais restritiva para melhor apli-
cá-lo a suas necessidades particulares. Oterapeuta, por exemplo, considera fármacos como os agentes químicos efi cazes para o tratamento de doenças. Para o público leigo, “droga” geralmente
conota uma substância que causa alterações mentais e psicológicas. Finalmente, agências governamentais preocupam-se com a
receita derivada das taxas impostas sobre a venda de certas subs-
*Nota da Revisão Científi ca: “Fármaco” e “droga” são termos aceitos.

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