Viver de forma ética, ser leal aos próprios princípios e ainda assim ser punido por isso. Essa é a realidade de muitos profissionais de saúde que, além de enfrentarem jornadas exaustivas e estruturas fragilizadas, ainda lidam com o peso da instabilidade política. E mais grave: com perseguições veladas (ou nem tão veladas) quando ousam se posicionar.
Nos últimos anos, acompanhei de perto situações que me deixaram profundamente desanimada com os rumos de determinadas gestões públicas. Uma delas, inclusive, me fez perder o emprego. Não por incompetência, não por negligência, mas por ter externado apoio a um político diferente do apoiado pela atual gestão.
E, como tantos, fui silenciada sem aviso — punida pela liberdade de pensar e de falar.
Recentemente, revi esse mesmo filme, dessa vez com alguém que admiro e conheço o caráter. Uma profissional com longa trajetória, de competência reconhecida, que sempre assumiu posições firmes, sim — mas em defesa da saúde pública, dos trabalhadores e dos princípios éticos. Alguém que contribuiu com ideias, planos, tempo e energia para construir uma gestão melhor. E que, ao defender colegas e expor falhas públicas, foi deixada de lado, atacada, e agora carrega, injustamente, o peso de uma crise que não provocou.
A política, infelizmente, ainda é usada como instrumento de retaliação. E quando isso acontece no serviço público, quem perde não é apenas o profissional atingido. Quem perde é a população. Porque bons gestores, bons médicos, bons enfermeiros, bons líderes — não são descartáveis. Não deveriam ser.
Este texto não é para gerar polêmica, nem para acusar. É um grito abafado de alguém que já viu a corda arrebentar, e quase sempre do lado mais ético. É uma tentativa de mostrar que há uma maneira digna de resistir, mesmo no silêncio, mesmo sem manchetes. É uma forma de dizer: eu vi. Eu sei. E eu não me calo por completo.
Porque a justiça tarda, mas a verdade encontra o seu caminho.
Texto: Kelly Cabral dos Santos
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