quinta-feira, 17 de outubro de 2013

BIOSSEGURANÇA ODONTOLÓGICA: PREVENIR É PRECISO

O controle de infecção e a biossegurança consistem em minimizar os acidentes laborais na redução dos riscos ocupacionais e na prevenção da infecção cruzada, constituindo-se em temas de grande relevância para a prática odontológica, despertando nos últimos anos maior interesse em virtude principalmente do avanço da epidemia AIDS. Os profissionais de saúde se encontram em um conflito no que diz respeito à preocupação em suprir as necessidades de seus pacientes e, por outro lado, a preocupação em não se contaminar pelos mesmos. Somado a este dilema existe ainda o risco de infecção pela hepatite B, a mais preocupante das doenças infecto-contagiosas entre os profissionais de saúde. A infecção pelo HBV pode levar ao desenvolvimento de enfermidades gravíssimas e muitas vezes até a morte.  A biossegurança no Brasil somente se estruturou como área especifica, nas décadas de 1970 e 1980, RAMACCIATO (2007), define biossegurança em odontologia como um conjunto de medidas empregadas com a finalidade de proteger a equipe e os pacientes em ambiente clinico, inferindo que tais medidas preventivas têm como objetivo a redução dos riscos ocupacionais e controle da infecção cruzada. O estudo apresentado não pretende esgotar o assunto e sua relevância, e sim elencar o histórico da biossegurança desde os primórdios da historia, mensurando procedimentos e importância, bem como listar conceitos e fatores de risco na pratica do profissional da odontologia.  
A biossegurança no contexto histórico. 
A preocupação do homem em tornar os materiais isentos de microorganismos data de muito tempo. Ainda anterior a esta preocupação foi o fato do homem reconhecer a importância de se proteger de fontes de infecção. Assim, por exemplo, o exército de Alexandre o Grande, fervia água para beber. Muitas outras civilizações antigas preservavam os gêneros alimentícios com sal, pela secagem e por aquecimento (JORGE 2006). Segundo Steiner, Doudoroff e Adelberg (1969), em 1864 um jovem cirurgião inglês chamado Lister, impressionado com os trabalhos de Pasteur, desenvolveu métodos para impedir o acesso de microrganismos aos ferimentos cirúrgicos, com a finalidade de evitar infecção microbiana (sepsia) nos tecidos após cirurgia. A lógica da construção do conceito de biossegurança teve seu inicio na década de 1970 na reunião de Asilomar na Califórnia, onde a comunidade cientifica iniciou a discussão sobre os impactos da engenharia genética na sociedade. Esta reunião, segundo Goldim (1997), é o marco na história da ética aplicado a pesquisa. Na década de 70 o foco de atenção voltava-se para a saúde do trabalhador frente aos riscos biológicos no ambiente ocupacional de acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO 1993). 
Biossegurança no contexto histórico nacional. A biossegurança no Brasil somente se estruturou, como área específica, nas décadas de 1970 e 1980 (ALMEIDA 2000).
No Brasil, a legislação de biossegurança está formatada legalmente apenas para processos envolvendo organismos geneticamente modificados, através da Lei de Biossegurança, n 8.974, de 5 de janeiro de 1995. Em 2005 a Lei de Biossegurança passou por algumas alterações e com isso atualmente é utilizada a Lei 11.105 de 24 de março de 2005. 
Biossegurança
Segundo Hoefel e Schneider (1997), biossegurança pode ser definida como o conjunto de normas e procedimentos elaborados com o objetivo de proteger a saúde e evitar a aquisição de doenças e/ou agravos durante atividades profissionais de risco. Em Odontologia é definida como sendo um conjunto de medidas empregadas com a finalidade de proteger a equipe e os pacientes em ambiente clínico. Tais medidas preventivas têm como objetivo a redução dos riscos ocupacionais e controle da infecção cruzada (RAMACCIATO 2007). 
 Importância
A importância da Biossegurança tem uma ampla aplicabilidade em todas as áreas de ensino, indo desde a Engenharia, Arquitetura, Biologia, Direito, Educação Física, Odontologia, até o Grupamento de Bombeiros, os quais focalizam a biossegurança conforme as suas necessidades específicas (VINHAS 2007). Os principais aspectos que devem ser analisados nas formulações de um programa efetivo de controle de contaminação são: avaliação dos pacientes, proteção pessoal, esterilização do instrumental, desinfecção de superfícies e equipamentos. Neste sentido, a biossegurança requer TREINAMENTO, CONHECIMENTO CIENTÍFICO, RESPONSABILIDADE e um CONSTANTE MONITORAMENTO DE ATITUDES por parte de cada profissional que exerce atividades clínicas (RAMACCIATO 2007).  
Riscos Ocupacionais
A classificação dos riscos nos ambientes de trabalho e definida pela Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego, em suas Normas Regulamentadoras (NR) de Medicina e Segurança do Trabalho (BRASIL, 2002). Os riscos ocupacionais são classificados em:   Riscos ergonômicos - São elementos físicos e organizacionais que interferem no conforto da atividade laboral e, consequentemente, nas características psicofisiologicas do trabalhador.
Riscos mecânicos, de acidentes - Nesta classificação incluem-se os riscos de acidentes físicos, químicos, biológicos, alem de outros, como eletricidade, máquinas, incêndio, armazenamento etc.  Riscos físicos - Representados pelos ruídos, vibrações, pressões, radiações etc.  Riscos químicos - Substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, contato com a pele ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão, como poeiras, fumos, gases, vapores etc.  Riscos biológicos - Representados pelas bactérias, fungos, parasitas, vírus, entre outros. Sabe-se que as exposições ocupacionais a materiais biológicos potencialmente contaminados constituem um serio risco aos profissionais da saúde nos seus locais de trabalho. 
Precauções básicas
As medidas de precauções universais ou medidas padrão, representam conjunto de medidas de controle de infecção, para serem adotadas universalmente, como forma eficaz de redução do risco ocupacional e de transmissão de microrganismos nos serviços de saúde (MARTINS, 2001). Precauções básicas:  Utilizar Equipamentos de Proteção Individual – EPIs ;  Lavar as mãos antes e após o contato com o paciente e entre dois procedimentos realizados no mesmo paciente;  Manipular cuidadosamente o material perfuro-cortante;  Não reencapar, entortar, quebrar, ou retirar as agulhas das seringas. Se o paciente precisar de complementação anestésica de uma única seringa, a agulha pode ser reencapada pela técnica de para dentro da tampa deixada sobre uma superfície (bandeja do instrumental ou mesa auxiliar);  Transferir os materiais e artigos, durante o trabalho a quatro mãos, com toda atenção e, sempre que possível, utilizando-se uma bandeja;  Manter as caixas de descarte dispostas em locais visíveis e de fácil acesso e não preenchê-las acima do limite de 2/3 de sua capacidade total.  Efetuar o transporte de resíduos com cautela para evitar acidentes.  Não afixar papéis em murais utilizando agulhas.
 Descontaminar as superfícies com preconizados pelo controle de infecção, caso haja presença de sangue ou secreções potencialmente infectantes.  Submeter os artigos utilizados à limpeza, desinfecção e/ou esterilização, antes de serem utilizados em outros pacientes.  Não tocar os olhos, nariz, boca, máscara ou cabelo durante a realização dos procedimentos ou manipulação de materiais orgânicos, assim como não se alimentar, beber ou fumar no consultório.  Manter os cuidados específicos na coleta e manipulação das amostras de sangue.  Durante os procedimentos (com luvas), não atender telefones, abrir portas usando a maçaneta nem tocar com as mãos em locais passiveis de contaminação.  
Equipamento de Proteção Individual
 O uso do equipamento de proteção individual é indicado para a higiene e a proteção da equipe de saúde, dos pacientes durante os atendimentos e daqueles que com eles se relacionam em seguida, dentro e fora do estabelecimento de saúde, sendo que esses equipamentos devem ser usados por todos os membros da equipe de saúde somente nos ambientes de atendimentos (CAMPOS, 1988).     Os equipamentos de proteção individual: a) Luvas, sendo que a troca é obrigatória a cada paciente, e devem ser específicas a cada procedimento: luvas cirúrgicas (estéreis), luvas para procedimentos (não estéreis) e luvas grossas de borracha (para limpeza); b) Máscara descartável com filtro (no mínimo duplo); c) Óculos de proteção; d) Avental limpo; e) Gorro, em procedimentos cirúrgicos. f) A paramentação deve ser de uso exclusivo do consultório. g) O profissional da equipe de saúde bucal, responsável pela lavagem e descontaminação de artigos críticos e semi-críticos, deve realizar esses procedimentos com luvas de borracha resistente. 
Higienização das mãos.
 Segundo Santos et al (2006), a higienização das mãos é considerada a ação mais importante para a prevenção e o controle das infecções em serviços de saúde. O simples ato de lavar as mãos com água e sabão líquido, pode reduzir a população microbiana das mãos e interromper a cadeia de transmissão de infecção entre pacientes e profissionais. A higienização das mãos com água e sabão deve ser escolhida sempre que houver umidade ou sujidade visível. O álcool só deve ser aplicado quando as mãos já estiverem livres de sujidade visível.  Lavagem das mãos de acordo com Serviços Odontológicos da ANVISA (2006):  Manter corpo afastado da pia;  Abrir torneira e molhar as mãos sem tocar na superfície da pia.  Aplicar quantidade de produto suficiente para cobrir toda a superfície das mãos.  Ensaboar as mãos, friccionando uma na outra.  Friccionar os espaços interdigitais, unhas e pontas dos dedos.  Enxaguar as mãos em água corrente, retirando todo o resíduo do sabonete sem encostar na pia.  Enxugar as mãos em papel toalha descartável.  Quando for utilizar anti-séptico que dispensa enxágüe, ou seja, à base de álcool, basta friccionar o produto ate que seque totalmente. 
Imunização dos Profissionais de Saude
 De acordo com Paz et al (2006), os profissionais da área da saúde, por estarem mais expostos, possuem um risco elevado de aquisição de doenças infecciosas, devendo estar devidamente imunizados. O profissional deve estar atento às características da região e da população a ser atendida, pois diferentes vacinas podem ser indicadas. As vacinas mais importantes para os profissionais da Odontologia são contra Hepatite B, influenza, tríplice viral e dupla tipo adulto. 
Descarte de resíduos
Os resíduos gerados nos serviços odontológicos causam riscos à saúde pública e ocupacional equivalente aos resíduos dos demais estabelecimentos de saúde. Seus responsáveis técnicos devem implantar um plano de gerenciamento de acordo com o estabelecido na RDC ANVISA n 306 de 07 de dezembro de 2004, ou a que vier substituí-la. Os resíduos são classificados em 5 tipos, de acordo com o risco (Resolução RDC 306/2004):
Tipo A - Biológico Tipo B - Químico Tipo C - Radioativo Tipo D - Comum Tipo E – Perfuro cortante 
Limpeza do Ambiente Odontológico
 Nas superfícies e componentes dos equipamentos odontológicos deve ser realizada a limpeza com água e sabão neutro, e posterior desinfecção com álcool a 70%. Para diminuir ainda mais o risco de contaminação, a utilização de barreiras físicas de tecido ou plásticas é recomendada. A limpeza geral consiste na remoção da sujidade de paredes, teto, piso, portas e janelas que não oferecem risco de contaminação quando encontram-se limpos. O piso deve ser limpo diariamente e as demais superfícies semanalmente ou quando necessário (FERREIRA et al 2006). 
Limpeza dos artigos odontológicos
 De acordo com Verotti (2006) os artigos utilizados na cavidade bucal exigem o máximo rigor no processamento, recomendando-se a esterilização por autoclave pelo fato de que o uso de desinfetantes não assegura a eliminação de todos os microorganismos.  Na odontologia, os processos de esterilização indicados são:  Físicos: utilização de vapor saturado sob pressão, autoclave.  Quimicos: utilizando-se soluções de glutaraldeido a 2% e de acido peracético a 0,2%.  De acordo com Verotti (2006) o instrumental esterilizado deve ser armazenado em local separado, em armários fechados, protegidos de poeira, umidade e insetos. Este local deve ser limpo e organizado periodicamente 
Conclusão A prática no cotidiano profissional infelizmente não se observa a adoção de medidas que reduza a infecção cruzada no ambiente de trabalho, considerando que comumente não se encontram nas Unidades Básicas de Saúde, o mínimo de material de higienização, bem como o simples sabão para lavar as mãos e papel para secá-las. Tais condições de trabalho induzem o profissional a enfrentar o dia-a-dia apenas como um profissional que reduz o tamanho das filas minimiza as dores dos seus pacientes, mesmo sabendo que suas vidas, de sua equipe e de seus pacientes encontram-se em perigo.
Tendo que obedecer a ordens de pessoas descompromissadas com o social e a qualidade de trabalho e atendimento. O profissional capacitado não é valorizado pelas esferas administrativas, este deveria ocupar lugar em seu ambiente de trabalho de acordo com sua especialização, poder opinar, dessa forma contribuiria para a qualidade no atendimento, envolveria sua equipe em suas atividades dinamizando o trabalho como um todo. 
Referências Bibliográficas 1 – ALMEIDA, A. B. S., Biossegurança: um enfoque histórico através da historia oral. Disponível em www.scielo.com.br. 2000.

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